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Crônica - O Campeão Mundial da turma da minha rua

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Imagem: Disney Studios
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Vamos fazer o seguinte: reunir todos os motores Riomar V4, V12 e Silpo guardados nas prateleiras e fundos de garagem, contratar uma boa assessoria de imprensa sem pudores para escrever aquilo que nos interessa, escolher algum kartódromo interiorano sem homologação oficial, convidar alguns pilotos “importados” e, o principal, convidar Osama Bin Laden para ser o promotor do Campeonato Mundial de Kart Pé-de-Breque!

Obviamente não vai nos interessar se o título final do certame mundial vai ter algum reconhecimento além da ampla divulgação que terá certo apoio incondicional da banda arrivista da mídia nacional e dos (momentaneamente) sorridentes parentes do vencedor das disputas entre a turba reunida. O importante é que teremos mais um Campeão Mundial de Kart e para brasileiro titulo de campeão é o que vale...

Bem, nesse ponto da leitura deve ter alguém mais lúcido e achando tudo isso ridículo e sem propósito, mas esse devaneio onírico acaba de acontecer e, sem embargos da extrema qualidade técnica na condução de um micromonoposto, o kartista paulista Alberto Catucci está sendo declarado Campeão Mundial de Kart em um certame realizado aos exatos moldes do que estamos aqui propondo. Sem reconhecimento da CIK/FIA, o órgão máximo internacional da modalidade, da CBA- Confederação Brasileira de Automobilismo, por seu turno o único órgão nacional competente no território nacional para supervisionar competições automobilísticas e nem mesmo da ONU, Vaticano, ou Liga Internacional das Senhoras Católicas, a láurea de Betinho Catucci é a mesma que teria o Campeão Mundial de Kart da Turma da Minha Rua.

Encerrados os intermináveis sorrisos e as costumeiras seções de tapinhas nas costas, baixada a poeira é hora de se pensar nas conseqüências que o futuro reserva aos intrépidos participantes do chamado V Internacional Kart GP, realizado entre os dias 28/02 e 1/03 no Kartódromo de Guaratinguetá sob os auspícios da LINEA Brasil, liga tupiniquim de discutível validade nacional, que por conta própria arvorou-se em pouco tempo a “concorrente” da FIA, organizando eventos de validade mundial (mas bem poderia ser interplanetária).

A desatenta mídia “dita” especializada publicou com alarde no ultimo dia 29/02 comunicado oficial da entidade máxima do desporto motorizado no Brasil que preventivamente todos os pilotos brasileiros inscritos no V Internacional Kart GP estavam suspensos pelo período de sessenta dias.

Essa foi a parte que todo mundo entendeu...

No bojo do comunicado estava expresso que tal punição que esses condutores não preenchem os requisitos necessários para a manutenção de seus nomes no quadro de pilotos da entidade, por não respeitarem os códigos e estatutos, pelo que remetia-se oficio ao Superior Tribunal de Justiça da entidade para a instauração de processo que deve ter como conseqüência a desqualificação dos pilotos nacionais que participaram do evento reconhecido como “pirata” (ou “genérico” como preferimos). Para quem tem dificuldade de compreensão, desqualificação é, na prática, o mesmo que expulsão definitiva dos quadros da CBA. É um verdadeiro e legítimo “pé-no-traseiro” de cada um desses pilotos que não mais poderão sequer sonhar em competir de kart, de carros de corrida, ou mesmo de rallye.

É um lacônico final para promissoras carreiras de pilotos que, certamente, batalhavam por verbas de patrocínio para competir nas categorias de Fórmula, carros Esporte-Protótipo, ou mesmo de Turismo. Nenhum deles jamais será visto alinhando em qualquer categoria oficial CBA, ou FIA, já que a CIK/FIA também promete punição exemplar em cunho internacional aos desobedientes condutores. Alberto Catucci ainda leva os louros da conquista do título de campeão-mundial-de-kart-da-turma-da-minha-rua. Os demais apenas as severas sanções de encerramento precoce das promissoras carreiras.

Fim mais triste que o de Policarpo Quaresma...

Última atualização ( Sex, 14 de Março de 2008 07:28 )