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Campeonato Brasileiro - Giuliano Raucci foi alvo nos carrinhos de trombada da Cadete

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Giuliano Raucci - Cadete
Foto:Claudio Reis
Estatisticamente a categoria Cadete no Campeonato Brasileiro de Kart de 2008 foi um inegável sucesso. Afinal nada menos que quarenta e seis pilotos oriundos de quinze estados distintos desta Republica Federativa apresentaram-se nas curvas e retas do Kartódromo Julio Ventura, em Eusébio (CE) embalados pelo sonho de conquista do titulo máximo nacional.

Já se vai longe a era do amadorismo puro no esporte dedicado aos micromonopostos. O kartismo nacional recebeu na ultima década um verdadeiro up-grade de profissionalismo, não apenas para sua reconhecida função de firme alicerce na formação de carreiras que visam as categorias top do automobilismo nacional e mundial, mas também para tornar-se o principal coadjuvante na forja do homem de amanhã, gerando em cada desportista a necessária autoconfiança, desenvolvendo a capacidade de superação de limites, o indiscutível e irrestrito respeito às regras coletivas, agregando o espírito de equipe e, principalmente, o respeito ao próximo.

Estatisticamente a categoria Cadete no Campeonato Brasileiro de Kart de 2008 foi um inegável sucesso. E esse sucesso, em parte, deve ser creditado à empresa mineira de preparação de motores RCB, que forneceu aos quarenta e seis pilotos inscritos propulsores primorosamente equalizados e com rendimento isonômico, fator de permitiu que trinta e seis karts completassem a tomada de tempos classificatórios separados por menos de um segundo de diferença.

Estatisticamente e na isonomia de motores a categoria Cadete no Campeonato Brasileiro de Kart de 2008 foi um inegável sucesso. Mas no que tange àquele up-grade de profissionalismo e em especial à forja do homem de amanhã foi um efetivo fracasso, já que para muitos concorrentes a observância às regras desportivas e o respeito aos demais concorrentes e normas básicas de segurança foram substituídas pelo artigo único da “Lei de Gerson” em qual o monocórdio mantra reza que importante é sempre levar vantagem.

Desde a corretíssima adoção por parte da CNK- Comissão Nacional de Kart da obrigação de utilização de pára-choques traseiro - em busca do aumento de segurança – o pedal de freio foi literalmente abolido por grande parte dos condutores da categoria Cadete que, certos de que nada lhes acontecerá, passaram a utilizar o pára-choques do kart à frente como apoio, “redutor de velocidade” e, principalmente, como “coadjuvante” nas ultrapassagens mais difíceis, já que obviamente tornou-se mais fácil – e menos arriscado - tirar o concorrente da frente na base da “gentileza” do que ter de disputar uma freada ou ter de fazer o contorno de curva com mais habilidade. Para piorar esse dantesco quadro a grande quantidade de karts na pista dificultou a correta visão das manobras pelos Comissários Desportivos, que habitualmente crêem carolamente que isso tudo é “normal de corrida” e que as bandeiras destinadas às penalizações são revestidas com grossas e pesadas camadas de chumbo.

Estatisticamente a categoria Cadete no Campeonato Brasileiro de Kart de 2008 foi um inegável sucesso. Mas para muitos pilotos comprometidos com a observância das regras desportivas e puristas na olvidada pratica de conduzir bem um kart, a categoria Cadete no Campeonato Brasileiro de Kart de 2008 foi de inegável frustração, principalmente para os que chegaram ao certame máximo nacional com retrospecto favorável de títulos e vitórias, que aparentemente levavam às costas um indelével “carimbo” com alvo pintado para melhor identificação dos adeptos da Lei de Gerson.

Assim foi a participação do kartista paulista Giuliano Raucci (Refrigerantes Dolly/ KartZoom) na 43ª edição do Campeonato Brasileiro de Kart. Vice-Campeão Brasileiro de Kart, Campeão do GP Brasil, Campeão da Copa Brasil, Campeão Paulista Granja Viana e Campeão do Troféu Dolly Guaraná de 2007, o Dollynho – como é chamado nas pistas o piloto paulista – cumpre em 2008 sua primeira temporada na categoria Cadete e chegou ao Kartódromo Julio Ventura com o objetivo de aumentar seu aprendizado e adaptação à concorrida classe, bem como de completar sua participação no certame entre os dez melhor colocados.

Nos treinos livres as metas estabelecidas vinham sendo fielmente cumpridas, com Raucci estabelecendo no primeiro dia de treinos livres (8/07) a 8ª melhor marca no treino matutino e 9º melhor tempo no treino vespertino. Com seu equipamento bem ajustado pela competente equipe KartZoom, no warm-up matinal de quinta-feira essa performance confirmou-se, com Giuliano cravando a sétima melhor volta do treino de aquecimento.

Mas bastou ter inicio a tomada de tempos classificatórios para que Giuliano Raucci sentisse na pele os efeitos dos adeptos da Lei de Gerson. Inserindo seu bólido no “trenzinho” formado pelos bólidos mais velozes do Grupo II de classificação para beneficiar-se do vácuo dos karts dianteiros, Giuliano recebeu em uma das curvas do miolo do circuito forte impacto na traseira de seu kart, curiosamente desferido por um kartista que habitualmente desconhece a função do pedal colocado ao lado esquerdo de seu kart. Em razão da forte batida o micromonoposto de Raucci rodou na pista, perdendo contato com o pelotão dos mais velozes e, pior ainda, ficando completamente desalinhado e em condição de estabelecer voltas competitivas. De resultado o Dollynho ficou apenas com a 26ª melhor marca da pratica classificatória e com a 18ª posição no grid de largada para a primeira bateria eliminatória, a do confronto entre os grupos A X B.

Na largada da primeira prova eliminatória Raucci posicionou-se bem, colado na traseira do kart de Thiago Vivacqua - que ao final do certame conquistou o titulo de campeão e foi 10º nessa bateria -, mas novamente a Lei de Gerson imperou e com outra pancada em seu kart, Giuliano despencou para a 31ª e ultima posição. Combativo, buscou partir para uma prova de recuperação, mas em uma bateria de apenas dez voltas pouco poderia fazer e completou a corrida na 24ª colocação.

Com o 17º posto na grelha para a segunda bateria eliminatória, a dos grupos BXC, Giuliano Raucci sabia que tinha de partir para o ataque e rapidamente conquistar varias posições, para garantir uma das 28 vagas dos pré-classificados para as provas Pré-Final e Final, que cristalizariam o campeão Cadete de 2008. Com uma largada perfeita, o Dollynho passou a conquistar posições, mas novamente o “carimbo-alvo” entrou em ação e Raucci teve seu kart violentamente atingido por um dos integrantes do MSB (Movimento dos Sem Breque) e despencando para o final do pelotão. Raucci retornou à disputa, mas em outra prova de tiro curto nada pode fazer e completou na 18ª colocação, sem conquistar a pré-classificação para as finais e tendo de disputar na corrida de repescagem uma das seis vagas restantes para as finais.

No final da manhã de sexta-feira (11/07) o flamejante #25 de Giuliano Raucci (Refrigerantes Dolly/ KartZoom) foi alinhado na terceira posição do grid para a largada da prova de repescagem. Bastava apenas permanecer no pelotão dianteiro para ver confirmada sua participação nas provas finais e tentar cumprir seu objetivo de concluir sua participação entre os dez primeiro colocados. Após duas frustradas tentativas de autorizar a partida - ante a afoiteza dos integrantes da primeira fila -, foi apresentada a bandeira vermelha, punindo-se ambos com a perda de cinco posições no grid. A “estrela da sorte” de Raucci parecia voltar a brilhar, já que com a punição dos concorrentes dianteiros Giuliano partiria da posição de honra.

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Instante da batida em Raucci na repescagem
Foto:Claudio Reis
Nova volta de aquecimento e com os micromonopostos corretamente alinhados foi autorizada a largada. Preocupado em garantir a classificação e evitar mais uma batida, Giuliano Raucci permitiu que o mineiro Filipe Gildin assumisse ao final da reta dos boxes a ponta da prova, encaixando seu kart imediatamente atrás e com o piloto potiguar Pedro Fonseca “embutido” em seu pára-choques. Todavia, o tocantinense Enzo de Castro optou por tentar vencer a corrida na primeira curva e como legítimo integrante do MSB colocou seu kart sobre a “zebra” interna tentando a fisicamente impossível ultrapassagem. Como praxe nessa edição do Campeonato Brasileiro de Kart, o alvo foi o kart de Giuliano Raucci, que atingido com violência à “meia-nau” atravessou se kart na pista, enquanto Castro mantinha o pé firme no acelerador tentado tirar o indesejável “obstáculo” da frente...

De resultado tanto Giuliano Raucci, quanto o afoito concorrente caíram para as ultimas colocações. Novamente com apenas dez voltas para conseguir fixar-se entre o sexteto que permaneceria competindo no Brasileiro de Kart, Raucci buscou reduzir as distancias e – sem bater em ninguém – conquistar posições, mas era uma tarefa inglória e, apesar da fantástica performance, Giuliano Raucci (Refrigerantes Dolly/ KartZoom) divisou a bandeira a quadros na 11ª colocação.

Com três batidas recebidas em três corridas, Giuliano Raucci estava fora das finais da Cadete no Campeonato Brasileiro de Kart em clara demonstração que a categoria deixou sua precípua função de categoria-escola dos campeões do futuro para tornar-se a perigosa cristalização das práxis da Lei de Gerson que de forma antagônica à máxima do Barão de Coubertin, o importante não é competir, o importante é ganhar a qualquer custo.

Automobilismo é, inegavelmente, um esporte de risco e é chegada a hora de se tomarem enérgicas medidas inibidoras da equiparação de uma classe de kart aos carrinhos de trombadas dos parquinhos de diversão, antes que tenhamos de lamentar mais que meros resultados desfavoráveis em corridas.

  

Ouviram de Eusébio as margens plácidas

De um pai heróico o brado retumbante,

E o sol da segurança, em raios fúlgidos,

Brilhou no céu da pista nesse instante.

 

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Instante da batida em Raucci na repescagem
Foto:Claudio Reis
Última atualização ( Qui, 17 de Julho de 2008 16:46 )