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Entrevista - César Falavigna fala sobre o drama da cronometragem na etapa do Light

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O competentíssimo cronometrista Cesar Falavigna
Foto:Claudio Reis
Confira a entrevista exclusiva que César Falavigna, o frontman da experiente equipe de cronometragem Racing Crono concedeu ao Planet Kart, esclarecendo o que realmente aconteceu no episódio lamentável, que causou cerca de duas horas de atraso na primeira etapa da Copa São Paulo Light de Kart, disputada no Kartódromo Aldeia da Serra neste sábado (07/03) em Barueri (SP). 

Quem vê um senhor com cara de sério, concentrado em seu trabalho, na sala de cronometragem na maioria das provas regionais e nacionais do automobilismo brasileiro, muitas vezes não imagina quem é César Falavigna, um profissional com trinta anos de experiência no meio da velocidade, que vai da Formula 1 e até provas com “carrinhos” rádio-controlados. Em seus anos de experiência já trabalhou com os  equipamentos avançados para o controle dos tempos de voltas, até arcaicos métodos de trabalho manuais, com um simples cronômetro nas mãos e uma pranchetinha, para registrar os tempos essenciais para a existência das provas. “Eu trabalho sério, não fico de papo. Estou lá para fazer meu trabalho o melhor possível”, esclarece César.

Para os jornalistas especializados no mundo da velocidade o trabalho de César é bem conhecido, uma vez que é um dos poucos profissionais que disponibiliza em live-timing os certames nacionais para todo o mundo, através do site (www.racingcrono.com.br), bem como foi um dos primeiros a divulgar os resultados digitalmente em formato TXT, para facilitar ainda mais o trabalho da imprensa especializada, que se apressa a divulgar as informações exatas das provas.

Todavia, neste ultimo sábado (13/03), nem mesmo toda essa experiência junta pôde evitar que uma sucessão de problemas atrasasse as provas da primeira etapa nessa temporada da Copa São Paulo Light de Kart. “Eu tenho muita experiência, e nem assim consegui fazer a corrida normalmente, daí você pode imaginar o tamanho do ‘problemão’ que eu tive”, disse Cesar, agora já refeito do “susto” – que lhe determinou um pit stop na enfermaria -, logo no inicio desta entrevista exclusiva ao PlanetKart, que você passa a conferir agora, esclarecendo o que de fato aconteceu:

PlanetKart – Neste final de semana os problemas na cronometragem foram bastante comentados, mas para aqueles que acompanham você a muito tempo sabem o quanto o seu trabalho é sério e dedicado. Poderia explicar a todos o que aconteceu nessa etapa, para que se atrasasse tanto as provas?

César Falavigna – “O atraso foi causado por uma série de problemas. Primeiro, nós tivemos uma mala inteira de sensores que pegou fogo durante a noite, inutilizando de cara 32 sensores. Por conta disso, as outras malas que estavam carregando junto tiveram a energia cortada e não carregaram o suficiente. Não sei dizer a que horas ocorreu a interrupção da carga, mas por conta dessa carga insuficiente, conforme foi passando o tempo muitos sensores começaram a descarregar. Para piorar, já na pista e em um dado momento, o fio da antena da pista quebrou, mas não era visível que estava quebrado e eu achei que o aumento do ruído, que é a medida de leitura dos sensores, havia ocorrido por causa de alguma interferência. O fio acabou saindo da canaleta, e só aí é que vi que estava quebrado”.

Planet Kart – E o que foi feito para resolver esse problema?!

César Falavigna – “Emendamos o fio, mas ainda assim persistia o problema da carga dos sensores. O que posso dizer é que não foi possível fazer a coisa andar normalmente, porque, por exemplo, na Cadete, os karts andam muito juntos e estava quase impossível de acompanhar na célula. Ficou quase impossível, porque a visão que temos da pista lá de cima da torre é quase nenhuma. Só se vê os karts quando estão bem em cima, e vindo rápido, ficou realmente muito difícil”.

Planet Kart - Na sua profissão problemas com a cronometragem são normais. Como você encarou isso?

César Falavigna – “Sensores sempre descarregam, caem e outras coisas, quando são dois, cinco, sete, é fácil você identificar e continuar, afinal esses são problemas que eventualmente acontecem e que são solúveis. Mas quando são tantos sensores e ainda acontecem outras coisas em somatória, como nesse caso, fica muito difícil de se encontrar uma solução imediata sem que os problemas apareçam. Desta vez, não tive como compensar o que não funcionou, ao contrário do que já fiz outras vezes. Ou seja, não estou dizendo que atrasou por causa disto, ou daquilo. Foi a somatória de um conjunto de problemas inesperados, que não nos permitiu corrigir sem que houvesse uma interrupção no andamento das provas. Isso não é comum, mas também não é algo anormal, pois são dados eletrônicos e quem trabalha, ou opera normalmente, com informática sabe bem que isso é factível. Temos vivencia e experiência suficiente para evitarmos – e solucionarmos – os problemas, mas nem sempre isso é possível sem que apareça para o publico”.

Planet Kart - A quanto tempo você trabalha com cronometragem? Já teve problemas graves anteriomente?

César Falavigna – “Eu, este ano, completo 30 anos de cronometragem. Já fiz corrida de tudo que você possa imaginar, desde F1 até rádio-controlados e, claro, já tive problemas antes, mas a maioria deles foi solucionado sem que houvesse qualquer paralisação. A exceção foi a 500 Milhas da Granja Viana em 2007. Quando tudo funciona bem é fácil. A diferença que eu tenho, em relação a muita gente que hoje faz cronometragem, é que trabalhei quando tudo ainda era manual. Para saber o tempo de cada volta, era necessário fazer conta por conta. Então aprendi a fazer a coisa funcionar mesmo quando a coisa não está tudo 100%”.

Planet Kart – Uau! Trinta anos é muito tempo!!

César Falavigna – “É sim... para você ver, eu tenho muita experiência e nem assim consegui fazer a corrida normalmente. Daí você pode imaginar o tamanho do ‘problemão’ que eu tive de encarar, ao passo que talvez existam outras equipes que não tenham essa experiência manual, o que complica. Eu tenho certeza que alguém que não tivesse essa experiência no sábado não conseguiria fazer nenhum resultado sair.

Planet Kart - O que faz com que aconteça esses problemas?

César Falavigna - “São tantas variáveis, que nem posso te dizer com certeza... Interferências elétricas, interferências de rádio, o próprio desgaste do equipamento...”

Planet Kart -Como você acha que uma pessoa que está de fora poderia ajudar no seu trabalho, pra evitar problemas na cronometragem?

César Falavigna - “A presença de pessoas de fora durante as provas na sala de cronometragem atrapalha muitíssimo. Eu trabalho sério, não fico de papo, estou lá para fazer meu trabalho o melhor possível. E essas interferências externas atrapalham. Você se desconcentra, muitas vezes passo por mal educado por não dar atenção imediatamente. As vezes dá, as vezes não dá. Eu sei que não tenho uma imagem simpática a 99% das pessoas que estão envolvidas lá, mas é porque eu me concentro pra valer no meu trabalho...”

Planet Kart- O que você acha que poderia ser feito para que isso não acontecesse?

César Falavigna – “Talvez a cronometragem não devesse ser acessível a todos, mas imagine se eu proibisse todo mundo de subir o que isso causaria! Nós abrimos espaço para que, justamente, haja a maior transparência nos resultados a qualquer um. Mas seria melhor se houvesse mais consciência na hora de ir até lá, ir por motivos realmente necessários e em horas propicias”.

Planet Kart - É... Ajudaria muito mais. Obrigada César pela entrevista.

César Falavigna- "Ajudaria sim. E obrigado ao pessoal do Planet Kart pelo espaço concedido".

Última atualização ( Qui, 12 de Março de 2009 07:56 )