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Campeonato Brasileiro - Uma leitura sem paixões da primeira fase do Brasileiro em Goiania

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Tudo anotadinho...
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Muito tem se falado, escrito e “fofocado” sobre a primeira fase da 44ª edição do Campeonato Brasileiro de Kart, disputado entre os dias 7 e 11/07 no Kartódromo Ricardo Santos, em Goiânia (GO). Automobilismo é um esporte de paixão, mas na hora de se aquilatar fatos temos, obrigatoriamente, de deixar as paixões, frustrações e exacerbações de lado para mensurar com isenção total (o que é sempre muito difícil) e buscar tirar lições para o futuro.

Aliás, no caso do Campeonato Brasileiro de Kart o futuro é muito próximo, já que a segunda fase do certame máximo nacional está para começar em apenas sete dias e urge sejam tomadas por quem de direito medidas para se corrigir alguns procedimentos e, principalmente a ótica com que é visto o kartismo brasileiro, um dos mais competitivos deste planetinha azul que já produziu oito títulos de Campeão Mundial de F1.

Uma das criticas que se ouve pelos boxes, pela mídia e botequins é a escolha “política” de Goiânia como palco da primeira fase com campeonato, como se este fato fosse uma calamidade. Ora, sempre a escolha das sedes das fases do Brasileiro de Kart, da Copa Brasil, do Sul-Brasileiro e qualquer outro evento “chapa branca” foi política e em muitas oportunidades “coadjuvada” por gordos incentivos pecuniários aos cofres da CNK e CBA, portanto, nada de “grave” a escolha ter sido meramente política com expressamente reconhecido e declarado pelos dirigentes do esporte.

A própria F1, categoria “embalada” para a mídia e publico como a de maior tecnologia, altas velocidades e extremada preocupação com segurança, tem as sedes de seus GPs escolhida por critérios políticos e econômicos, que não são objeto de criticas. Mesmo quando são disputados os GPs em pistas estreitas, ou improvisadas, como as ruas de Monte Carlo, de Barcelona, ou em um parque no Canadá. Certamente são circuitos mais arriscados, mas com procedimentos diferenciados, cuidadosamente analisados previamente, que os tornam tão ou mais brilhantes que os demais GPs de cada temporada.

O kartismo brasileiro não é um esporte amadorístico, como é apresentado na maioria das nações – em muitas delas, como nos EUA, mais como objeto de hobby do que como esporte de alto rendimento -. De contrário, é encarado profissionalmente, como um primeiro degrau em direção às categorias top do automobilismo mundial, levado a sério e com vultosas somas de vil metal envolvido.

Perto do Kartódromo Ayrton Senna de Campo Grande (MS), sede da primeira fase do Campeonato Brasileiro de Kart de 2005, o goiano Kartódromo Ricardo Santos é o céu. Naquele circuito, ao final de cada treino, ou corrida, o comum era formar-se uma longa fila de pilotos na porta do ambulatório, para receberem de Dr. Daniel de Moraes tratamento em suas doloridas, luxadas e fraturadas costelas. O asfalto – se é que se poderia chamar assim a cobertura da pista – tratava-se de uma lama asfáltica, puxada com rodo e completamente irregular, lembrando o leito das ruas e estradas quando são “arranhadas” por maquinas antes de receberem nova capa de asfalto. Era, simplesmente, impossível, rasgar a reta principal acelerando a pleno, de tanta vibração e solavanco e certamente todos os pilotos tiveram que refazer as obturações dos dentes após participarem desse “Brazuca”.

Sala de Imprensa? Era um galinheiro até um dia antes de começar o campeonato. Boxes? Eram estábulos de vacas, que foram “enxotadas” assim que começaram a chegar os karts e equipamentos.

O perigoso “S” no final da reta dos boxes e as zebras altíssimas deram causa a muitos acidentes, mas ninguém leu execrações apocalípticas dessa fase do Brasileiro de Kart em Campo Grande...

O certo é que os dirigentes de então não olvidaram esforços em tornar aquele quase pasto o mais confortável e seguro possível. Procedimentos especiais de largada e de corridas foram adotados pela competente direção de prova de Bruno Barônio e pelos experientes Comissários Desportivos, minimizando em muito os riscos de acidentes – que ocorreram, alguns com gravidade -. Uma profusão de pilhas de pneus, todas “decoradas” com a faixa continua gravada com os logos da CBA/CNK davam a sensação de segurança e de estar em um “Brasileiro”.

Os boxes acanhadíssimos foram pintados de ultima hora e uma legião de funcionários da Federação local estava à disposição para constantes reparos e a Sala de Imprensa esmeradamente preparada pelo então Assessor de Imprensa específico da CNK, que “vive” o mundo do kart desde tenra infância.

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Acidente na largada da Junior Menor
Foto:Claudio Reis
O Kartódromo Ricardo Santos, de Goiânia (GO) tem um belíssimo traçado, seletivo e que propicia diferenciar que realmente pilota, de quem apenas acelera nas retas – como em Aldeia da Serra -. É certo que é mais estreito, mas o Kartódromo Granja Viana também o é e recebe em cada etapa mensal quase duzentos karts e não é natural em suas largadas e corridas a profusão de “triplos-mortal-carpados” vista nessa primeira fase do Campeonato Brasileiro de Kart.

O asfalto de Goiânia, embora não fosse um vistoso tapete lisinho, era eficiente e cuidadosamente corrigido pela FAuGO- Federação de Automobilismo de Goiás, através de um produto desenvolvido por um Engenheiro Químico de Goiás, não por acaso também piloto de kart. Visualmente era “feinho”, mas não era o festival de solavancos de Campo Grande, não soltava as obturações e nem fazia formar filas na porta do ambulatório.

É certo que sendo uma pista mais estreita e com alguns rolamentos próximos faltaram pilhas de pneus para evitar que algum kart “vazasse” para o leito de outro ponto do traçado, bem como ao longo do muro dos boxes e junto à cerca no final da reta dos boxes. Essa a única falha que se pode admitir como “grave” em relação ao traçado.

Bem, então porque tantos acidentes nas provas da sexta-feira, o primeiro dia de corridas em que todas foram pautadas por acidentes múltiplos de largada?

Voltemos às comparações: Sendo o circuito goiano a “Mônaco” do kart nacional (não a única, mas agora a “oficial”), os procedimentos de largada tinham, obrigatoriamente, de ser cuidadosamente estudados, calculados, checados e rechecados. Isso não foi feito, comprovando a teoria de que esse foi o Brasileiro do desdém. E por absoluto desdém é que ocorreram tantos acidentes, fruto de uma quase burra insistência em manter-se os procedimentos “habituais” de circuitos diferentes.

Na noite da mesmíssima sexta-feira, Rubens Gatti o presidente da CNK- Comissão Nacional de Kart e Ney Lins, presidente da FAuGO gentilmente reuniram-se com a eterna diminuta e sem qualquer apoio imprensa presente (leia-se Allkart, Kart Gaúcho, Planet Kart e site da RBC), para esclarecerem alguns fatos que geravam controvérsia e ouvirem sugestões. Uma delas, claramente anotada pelo presidente da CNK era justamente a de se alterar o procedimento de largada, com novas orientações aos pilotos e, principalmente, com reposicionamento dos Comissários Desportivos para que se observasse corretamente a linha de 25 metros, a velocidade com que chegavam à essa linha e, principalmente, em relação ao correto alinhamento dos concorrentes.

No sábado (11/07) isso foi feito e, “mi-la-gro-sa-men-te” os acidentes de largada praticamente acabaram...

Fica patente, então, que os novos dirigentes do automobilismo nacional desdenharam da complexidade e necessária preparação dos envolvidos para a execução de um Campeonato Brasileiro de Kart. A impressão que fica é que se acreditava, piamente, que provas com esses “caninhos” motorizados era “moleza” e fluiriam normalmente sem grandes problemas.

Com a mudança de direção da CBA e, de conseqüência, da CNK, já era esperado que ocorressem problemas organizacionais, naturais do noviciado da nova administração que decerto precisa de um tempo hábil e voto de confiança para aprender com os erros cometidos e trazer maior progresso ao esporte motorizado no Brasil. Mas ficou claro que o “ranço” político de algumas alas da nova administração embaçaram a visão dos novos dirigentes que por puro “prazer” revanchistico afastaram do meio profissionais de suma importância e gabaritados ao extremo.

A inteligência mediana, que nem sempre andar par e passo com os interesses políticos, indica que em qualquer alteração de comando deve-se, obrigatoriamente, aproveitar tudo que havia de bom no passado e, paulatinamente, ir se substituindo o que não era bom, ou criando novas formas de proceder. Isso é o óbvio ululante, mas nem sempre o óbvio é rapidamente percebido e o “desmonte” de uma estrutura bem “azeitada” no kartismo tupiniquim foi objeto de “orgulho” de dirigentes que sequer deram o ar da graça em Goiânia para ver o fruto de seus engenhos.

Experiente como poucos e competente como ninguém mais, o Diretor de Provas Bruno Barônio não teve sequer sua carteira de Diretor renovada pela entidade máxima do automobilismo nacional, sendo substituído pelo também competente Luis Mann. É certo que deve-se procurar a renovação, dando oportunidade para mais profissionais, todavia, a prudência aponta para a correção de medidas menos “radicais” e o correto seria, nessa hipótese, colocar-se ambos trabalhando em conjunto por um período suficiente para que a adaptação do novo escolhido fosse perfeita. Trabalhamos no automobilismo com elementos técnicos mecânicos e não é segredo para ninguém que uma engrenagem de dentes quadrados não se encaixa corretamente com uma de dentes pontiagudos. O trabalho de “fresa” é obrigatório para que esse encaixe das engrenagens seja perfeito, mas parece que em vez de técnica ferramentaria, optou-se pela truculência da marreta como instrumento de precisão...

Em tempo hábil a “nova” CBA percebeu ao menos parcialmente isso, convocando de ultima hora os Comissários Técnicos Ricardo “Alemão” Bignoto e Luis “Lu” Fernando Esmeraldo, bem como Danilo Bigão para coadjuvar na Secretaria de Prova.

Goiânia é uma cidade exuberante, com ótima rede hoteleira, bons restaurantes, povo hospitaleiro e cenário perfeito para receber bem (como recebeu) um Campeonato Brasileiro de Kart. Dentro de suas limitações orçamentárias – e gastou mais de 160 mil reais para isso – a FAuGO- Federação de Automobilismo de Goiás providenciou as reformas solicitadas pela CBA- Confederação Brasileira de Automobilismo, no Kartódromo Ricardo Santos para receber a primeira fase do Campeonato Brasileiro de Kart e, também é certo, que após a presença de varias equipes de outros estados da Federação em treinos particulares e da etapa da Copa Centro-Oeste que “valeu” como Open do Brasileiro, as criticas ao circuito se encerraram na radio-box e na mídia especializada.

Mas, se estava tudo certo, porque deu tanta coisa errada?

Ante a analise desprovida de paixões e criticas que devem ser admitidas à conta de construtivas, fica claro, claríssimo, que todos os problemas ocorridos em Goiânia durante a primeira fase do Campeonato Brasileiro de Kart de 2009 foram fruto do noviciado da nova administração da CBA e do ingênuo desdém com a preparação da praça desportiva e, principalmente, dos profissionais responsáveis pela execução do evento.

No intuito de imprimir sua marca de mudanças a partir desta edição do campeonato nacional, a CBA/CNK alterou (corretamente) o sistema de definição dos campeões pelos critérios adotados pela CIK/FIA. Todavia, ninguém tinha em mãos (nem mesmo os Comissários Desportivos) os regulamentos CIK/FIA traduzidos para o bom português. Sem a “fonte” das normas em mãos as duvidas eram generalizadas e sem uma correta preparação anterior, os Comissários Desportivos foram levados pela “embocadura” de anos de trabalho pelos critérios do RNK- Regulamento Nacional de Kart e erraram no alinhamento dos bólidos na segunda bateria das categorias Novatos e Junior.

Com a grave “bobeada” já produzida e só não persistida por alerta de um profissional de imprensa (sempre ela), a única alternativa plausível foi o de dar-se por canceladas as provas da segunda bateria das categorias Junior e Novatos.

Nada mais “agradável” para os eternos “do contra” que aproveitaram para potencializar ao extremo a derrapada dos Comissários. Aliás, alguns desses “do contra” mostraram sua face xiita na calada da noite de terça para quarta-feira, providenciando uma sabotagem no asfalto do kartódromo, com óleo diesel e algum produto químico não identificado, que formou mais de uma dezena de buracos no “Curvão” do circuito. Com mais seis mil reais saindo “voando” do caixa, a FAuGO providenciou na noite seguinte a correção da pista sabotada com a contração de uma empresa especializada e aplicação de caros componentes importados.

Decerto a FAuGO estava com o espírito armado contra equipes, pilotos, pais e, principalmente, contra a imprensa especializada, em razão do reclamo geral e (apaixonadas) criticas pela substituição da praça desportiva de Florianópolis pela goiana. Decerto, ainda, esse espírito armado influiu na recepção pouco calorosa e em especial às equipes paulistas e à imprensa especializada, que teve de montar às pressas a “oca” Sala de Imprensa oferecida, sem mesas, sem cadeiras, sem Internet e sem uma televisão para se acompanhar os tempos e resultados. Mas nada que alguns sorrisos e momentos de conversas amigáveis não superassem.

Claro, o “desdém” oficial também fez efeito na Sala de Imprensa, já que, o competente Jornalista Wagner Gonzáles, o novo Assessor de Imprensa Oficial da CBA, pouco afeito com os procedimentos do kartismo e com a necessidade de ser sempre o “primeirão” a chegar para a correta montagem da Sala de Imprensa e o credenciamento dos verdadeiros profissionais de imprensa, antes da distribuição de credencias e “jalecos” para ingresso na pista para os “comerciantes” de imagens, chegou no kartódromo apenas na quinta-feira (9/07) já com os trabalhos a pleno vapor.

Como “quebra-galho”, o primeiro membro de imprensa que se apresentou logo foi destacado para fazer a montagem da Sala de Imprensa e credenciamento dos profissionais de mídia. Por sorte era o Assessor de Imprensa e colaborador da revista Karting News, Ricardo Favaro.

Imaginaram se o primeiro a chegar fosse um deletério retratista falso abilolado que agora, também, costuma “distraidamente” apagar as fotos sem foco que tira? Uau!!!

Mas Beegola (como é conhecido no meio Wagner Gonzalez) conseguiu “segurar a peteca” e entre acertos e desacertos próprios de uma “estréia” no kart promete melhores condições de trabalho já em Curitiba, na segunda fase do Campeonato Brasileiro de Kart. O Planet Kart, Allkart e Kart Gaúcho, “mal acostumados” pelo exemplar trabalho do Jornalista Flavio Quick à frente do gerenciamento da Sala de Imprensa ao longo dos últimos anos, torcem pelo sucesso do novo companheiro nessa empreitada.

Por outro lado, para uma correta analise desprovida de paixões do fatos ocorridos em Goiânia, há que se salientar alguns gols de placa da CBA “new generation”, como o inédito sorteio de um motor Parilla 125cc completo entre os cinco campeões da fase (Mirim, Cadete, Junior Menor, Junior e Novatos). Em sorteio realizado na Sala de Imprensa, o “regalo” ficou para o Campeão Brasileiro 2009 da categoria Novatos, Renan Paparelli.

Além disso, o Campeão Brasileiro da categoria Cadete recebeu o direito de acompanhar de perto e ao lado do Presidente da Confederação Brasileira de Automobilismo, Cleyton Pinteiro, um dia de treinos do GP Brasil de F1, com direito a “passeio” pelos boxes e ver de perto maquinas e pilotos da categoria top do automobilismo mundial. Talvez o carioca Renatinho Junior, Campeão Brasileiro 2009 da Cadete esteja ali vendo sem saber seu futuro “escritório”...

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Igor Melo - Mirim - recebe atendimento médico
Foto:Claudio Reis
Também merece ser destacada a atuação da competentíssima e incansável equipe médica presente, que desdobrou-se no resgate e atendimento aos pilotos acidentados durante os treinos e corridas, bem como ao sempre valoroso Corpo de Bombeiros, que coadjuvou o serviço medico, além de premiar à todos com a bela apresentação da banda da corporação na cerimônia oficial e ceder, gentilmente, um de seus carros para que os fotógrafos e cinegrafistas presentes não perdessem qualquer “lance” das largadas do alto de sua carroçaria.

Decerto este não foi o melhor Campeonato Brasileiro de Kart já realizado, mas também é certo que não foi como passionalmente divulgado o “pior de todos os tempos”. Foi apenas um Brasileiro de transição, com erros e acertos naturais de um evento que marca o inicio de uma nova era, com novos pensamentos e muita vontade de gerar condições de desenvolvimento para o esporte com micromonopostos.

Goiânia recebeu hospitaleira e dignamente os melhores pilotos do Brasil das categorias Mirim, Cadete, Junior Menor, Junior e Novatos e viu materializar-se os títulos brilhantemente conquistado em belas disputas por Gregory Diegues (Mirim), Renatinho Jr (Cadete), Yuri Cesário (Junior Menor), André Pedralli (Junior) e Renan Papareli (Novatos).

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Suleno e Suelson
Foto:Divulgação
E é apenas disso que devemos lembrar nos tempos vindouros, além dos agradáveis acordes do verdadeiro show apresentado na lanchonete do kartódromo ao apagar das luzes pela dupla sertaneja goiana Suleno & Suelson, que embalou agradavelmente o fechamento das edições dos veículos de mídia presentes.

 Que venha a segunda fase do Campeonato Brasileiro de Kart no belíssimo e aconchegante Raceland!

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Acidente na largada da Junior Menor
Foto:Claudio Reis
Última atualização ( Ter, 14 de Julho de 2009 18:59 )