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Geral – Enfim alguém lúcido para mostrar que está tudo errado na carreira dos pilotos

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Rubens Barrichello. Esse é, realmente, “O Cara”! Tudo aquilo que ele diz e faz mostra (e demonstra) sapiência e deve, obrigatoriamente, ser “assimilado" pelas novas gerações de pilotos, do kart, até mesmo na F1.

A “modernidade” equivocadamente imposta aos jovens pilotos de que se deve começar no kart assim que deixar de lado as fraldas e “focar a qualquer preço” a carreira em rumo a um cockpit de F1 da maneira mais rápida possível, tem criado verdadeiros absurdos e a “ordem do dia” é largar os imprescindíveis ensinamentos do kartismo – que pela maioria é visto apenas como um mero degrau de passagem obrigatória – e “sentar” em um carro de Fórmula aos 15 anos de idade.

Isso é o “must” do momento. Isso é o que os especialistas em coisa nenhuma (a não ser “atacar impiedosamente” os bolsos de iludidos pais de piloto), indicam como a “melhor” forma de chegar na F1 antes de se ter pelos de barba no rosto do “candidato” a astro internacional.

A errônea “receita” do momento é entrar logo no kart, amealhar o máximo de títulos possíveis para se “rechear” o currículo a se um dia apresentado para as equipes internacionais, fazer uma temporada de “muito prazer” nas mixurucas categorias de Fórmula no Brasil (aos mais abastados esse degrau, também, pode ser pulado, indo logo para a Europa), uma temporada em uma classe de base na Europa, outra em uma categoria de acesso e mais uma na GP2, para ficar na “vitrine” dos chefões dos times de F1 e, presto, na temporada seguinte tornar-se o “pop star” mundial, o novo “Ayrton Senna”, o cara que vai sentar numa Hispania da vida (pagando muito por isso) e dar pau, logo de cara, no Sebastian Vettel.

Claro, também tem gente que acredita em Coelhino de Pascoa, Papai Noel e politico honesto...

Aprendizado? Lapidação de talento?

Isso é bobagem, “garantem” os especialistas, que nunca foram coisa nenhuma...

O Brasil sempre foi um imenso celeiro de talentos. Pilotos do mais alto nível, que indefectivelmente se davam bem nas pistas internacionais e que “causavam” – para utilizar um termo da modernidade -, acelerando forte, muito forte, nas pistas internacionais. Mas, então, tínhamos um kartismo de primeiríssima linha, com campeonatos como o Paulista de Kart, que era referencia no cone sul do continente americano, reunindo a “nata” do Brasil (desenvolvida em dezenas de campeonatos regionais, ou “interioranos”) e a “nata” de paises vizinhos.

Ser um piloto “Graduado A”, ou da internacional “Formula A”, não era fácil e motivo de extremo orgulho para quem o conseguisse. Os “novos” que chegavam na categoria se espelhavam nos mais veteranos e com eles faziam o “polimento final” em suas técnicas de pilotagem. Os pequenos, das categorias menores, tinham os pilotos Graduados “A” como verdadeiros ídolos. Pediam para tirar fotografia juntos, tietavam em seus boxes e, invariavelmente, ficavam olhando atentamente os treinos e corridas dos Graduados A e da Formula A, para aprenderem com cada freada, cada manobra, cada ultrapassagem, lições que buscavam colocar imediatamente em pratica.

A falecida Formula Renault e a sanha inesgotável pelo vil metal dos iludidos pais de pilotos (principalmente aquelas notas verdinhas, estampadas com a imagem de presidentes mortos dos EUA), foram o “botão de partida” para o final dessa história feliz. Por conta da “nova categoria internacional” a CBA errou feio e aceitou reduzir a idade mínima para se correr de carro no Brasil...

A Formula A acabou. A Graduados A “minguou” e todo mundo, sem exceção (até porque ninguém queria ficar de fora da nova “moda”), foi para a “maledetta” Formula Renault.

As novas gerações de pilotos de kart perderam, de uma só vez, toda a referencia que tinham e passamos a ver corridas de Graduados A com a mesma categoria, a mesma “finesse” de pilotagem que apresentavam na pista os pilotos da Novatos.

Isso ficou claro, claríssimo, no primeiro Campeonato Brasileiro de Kart que se seguiu a essa inexplicável inversão da ordem das coisas (2003): Na volta de apresentação da primeira bateria da Graduados A em Florianópolis, pela “primeira vez nesse país” (para usar outro termo em voga no momento) se viu pilotos da categoria top do kartismo nacional fazendo verdadeiras “barbeiragens” e rodando na pista, ante assustados olhos de quem nunca tinha visto esse tipo de cena!

A ultima geração de grandes pilotos da Graduados A acabou pulando um degrau importante no desenvolvimento de suas carreiras e deixou uma montanha de dólares em uma categoria em que nada se aprendia, pois na “nova ordem” da modernidade, o pensamento era o mesmo do Romário: “Treinar pra que?”...

Treinos? Só coletivos, em nome da pretensa preocupação em reduzir custos (na verdade uma indisfarçável preocupação em não se estragar os carrinhos). E ninguém aprendia nada.

Ao final do primeiro ano da categoria, na prova de encerramento, trouxeram para Interlagos um polonês desengonçado e desconhecido que andava na Renault européia (onde se podia treinar). O tal de Robert Kubica chegou aqui e “enfiou” um temporal nos astros nacionais, nos talentos de primeira grandeza que tinham tudo para um dia chegar na F1. Cumpre salientar que naquela “final” do primeiro brasileirão de Formula Renault a luta pelo titulo era entre Lucas Di Grassi (piloto em 2010 da equipe Virgin de F1), Alam Khodair (que se não fosse uma barbeiragem infantil de Thiago Marques poderia no ultimo domingo ter conquistado o titulo de campeão da Stock Car) e Sergio Jimenez, que levou o titulo da categoria e que fecha 2010 como sensação da FIA GT1.

Em uma analise rasa, com raras exceções, a ultima geração de Graduados A acabou prejudicada por pular um degrau, deixando de fazer a ultima e importantíssima temporada no kartismo de altíssimo nível que tínhamos (de novo esse é o tempo correto do verbo) e acabou não conquistando o Olimpo a que estavam fadados seus principais destaques – que ainda hoje causam sensação e esbanjam superioridade de pilotagem quando andam de kart em meio aos Graduados do momento -.

Todas as gerações seguintes do kartismo tupiniquim também o foram prejudicadas, pois sem a referencia de alto nível, o patamar de excelência caiu extremamente e o que era quase que uma “Universidade de Pilotagem” tornou-se o aprendizado equivalente ao de uma escola publica de primeiro grau, em qual os professores em atividade não podem passar para os alunos aquilo que não o sabem nem para si mesmo.

O Paulista de Kart, a “Universidade de Pilotagem” melancolicamente acabou. A falta de visão teleológica (para não falar de falta de inteligência mesmo) de nossos dirigentes não mudou e o que era ruim está se tornando pior, já que a idade mínima para andar de “carro de corrida” diminuiu mais ainda e se já não mais tínhamos Graduados de bom nível, não termos em breve mais Juniores para “referencia” aos que chegam ao esporte.

Talentos brutos, sem qualquer lapidação, estão se perdendo nessa caótica desordem do esporte e, se nada for feito para isso, o que já está ruim vai piorar ainda mais.

Claro, não buscamos difundir uma visão apocalíptica do kartismo das terras de Santa Cruz, não queremos “ofender” pilotos que se entendem o que há de melhor no momento atual, não queremos deitar por terra sonhos de um dia chegar em um monoposto de F1, mas buscamos em uma analise fria dos fatos apontar o que está errado em nosso panorama desportivo e abrir os olhos de quem deve “exigir” de nossos dirigentes medidas inteligentes (que se não as sabem produzir, que paguem alguém que o saiba) que levem nosso kartismo e, de conseqüência, automobilismo, ao estagio de superioridade que sempre teve.

Durante a entrevista coletiva dos organizadores e pilotos internacionais da 500 Milhas de Kart Granja Viana, que apresentou a mudança do evento para o Beto Carrero World a partir de 2011, ouvimos com alegria as palavras de Rubens Barrichello – finalmente admitido pela imprensa nacional como o astro que realmente é e um dos maiores pilotos de nossa historia na F1 -, que afirmou que via no tocantinense Felipe Fraga um dos melhores talentos do atual kartismo nacional. Barrichello e Tony Kanaan - que o ladeava e concordava em gênero, numero e grau, com as afirmações – “politicamente corretos” buscaram não ferir suscetibilidades, deixando claro que Fraga não era o único, mas que entre os bons era um dos melhores e que estava quase pronto para alçar novos vôos.

Para isso, frisaram com clareza inequívoca, de que o importante era Fraga e sua geração viver um dia de cada vez, mantendo os sonhos de um dia chegar à F1, mas tendo isso apenas como sonhos e não como objetivo único e imutável.

Uma luz no fim do túnel! Uma lúcida visão de dois pilotos de primeiríssima linha, de sucesso internacional e que conseguem manter-se no topo, ainda figurando como reais candidatos ao titulo máximo, de categorias em que a permanência as pouquíssimas “cadeiras” é disputada à tapa. São verdadeiros heróis, não só do esporte, mas também da vida, pois na mesma medida de astros do esporte são reconhecidos como homens íntegros e admiráveis.

A entrevista coletiva era para “contar” da mudança de endereço e formato da 500 Milhas de Kart, mas a oportunidade de transmitir ensinamentos não foi perdida e Rubens Barrichello e Tony Kanaan deixaram o claro, claríssimo “recado” para as novas gerações de pilotos: Vivam um dia de cada vez. Sorrindo, com alegria e aprendendo o máximo possível. Tenham sonhos, mas não objetivos de carreira, que acontecerá naturalmente para aqueles que estiverem realmente preparados.

Pelo que pudemos apurar, Felipe Fraga entendeu “direitinho” o recado e ao menos uma alma está salva do Purgatório, já que pretende continuar no kart, aprendendo e “lapidando” sua expertise de piloto. Sonhando, mas deixando de lado o objetivo de “focar” na F1, que pode um dia acontecer de forma natural, não com desespero e entregando a qualquer preço a alma ao Diabo.

Em poucas palavras ditas pelos heróis da velocidade, até o que não foi expressamente falado ficou claro: O kartismo é realmente uma escola. Não uma escola de F1, mas uma escola da vida que forja grandes homens, ensinando a ser competitivo, ter auto-confiança, a trabalhar em equipe e dar valor às demais pessoas independentemente do nível social, de cultura, de beleza física e de cor da pele. Afinal os pilotos não vencem corridas sozinhos, são parte de uma equipe formada por pessoas cultas e inculta, ricas e pobres, de pele alva e pele negra, mas todos igualmente importantes para a conquista dos resultados e unidas por uma mesma paixão.

Rubens Barrichello e Tony Kanaan “chegaram lá”. Conquistaram os seus sonhos de vitórias e conforto na vida. No kart aprenderam isso e, por isso, são eternos kartistas, o que sempre falam para todos, indistintamente, com extremo orgulho.

Como em um “twiter” real (não meramente eletrônico), devem ser “seguidos” por milhares, por milhões, por todos que amam o mundo da velocidade.

Esse ensinamento, ao que parece, vem se tornando habito arraigado no dia-a-dia de Rubens Barrichello, posto que tem prosseguido na preocupação de transmitir esses ensinamentos adquiridos ao longo de três décadas de carreira. Em razão dos feitos, conquistas e da longeva carreira no automobilismo, Rubens Barrichello, o “Rubinho do Brasil”, recebeu em Londres, neste domingo (5/12) e ao lado do britânico Jackie Stewart, o Autosport Gregor Grant Award, cobiçada láurea criada em 1982 pela revista inglesa Autosport. Na cerimônia de premiação Rubens contou o “segredo” que o faz ser como o vinho, ou seja, cada vez melhor com o tempo: “Você precisa pensar em um dia de cada vez. Você precisa ser você mesmo e aproveitar sua infância. Você tem de sonhar, mas sonhar é diferente do que realmente viver na F1, e eu realmente vivi um dia por vez – e acho que esse é o segredo. Tenho aproveitado tanto a minha vida”.

Viver um dia de cada vez, dando um passo de cada vez, sem pular degraus, “curtindo” o que está fazendo no momento, assimilando as imprescindíveis lições que somente são obtidas através do diuturno aprendizado é a “base” de uma carreira longeva e vitoriosa. “Acho que estou melhor a cada momento. Queria que eu fosse assim quando pilotava pela Ferrari. Houve um tempo durante minha carreira que eu sentia que eles tratavam Michael Schumacher de uma certa forma, mas eu poderia ter sorrido mais com aquilo, e eu teria sido melhor, mas aqueles tempos me fizeram melhor”, esclareceu Rubens. Mas não perdeu a oportunidade de “lembrar” que é e sempre será um kartista, esporte que o ensinou a ter autoconfiança e serenidade, independentemente do que os outros acham, ou falam: “Eu sou apenas como um corredor de kart do passado. Se as pessoas realmente não acreditam que eu possa ser campeão no próximo ano, então tudo certo, mas eu acredito, e você precisa fazer isso e sorrir para os problemas”.

Barrichello lembrou que, quando pode, conversa com os pilotos mais novos da F1, curiosamente admitindo que eles são melhores que quando o brasileiro estreou na F1. “Quando eu tenho uma chance, falo um pouco com os caras mais novos. Os garotos do futuro, esses que estão chegando agora, são realmente melhores do que éramos. Eles são melhores que o Rubens Barrichello de 1993, porque eles são melhores preparados e eles têm simuladores e coisas como essas. Mas eles também pilotam karts já pensando na F1”, analisou.

Lúcido, Rubinho está demonstrando que o kartismo está vivendo e alimentando uma perigosa visão errada do esporte. O kartismo deve ser utilizado como um esporte autônomo, de aprendizado e diversão, não apenas com um degrau obrigatório para chegar na F1. Essa é uma visão que deve, obrigatoriamente, ser entendida e assimilada por nossos pilotos, pais de pilotos – principalmente, já que são eles que “ditam” os passos das carreiras -, chefes de equipes e dirigentes.

Vamos deixar o kartismo nacional voltar a ser forte. Vamos deixar nossos talentos serem lapidados onde “realmente” se aprende. Vamos deixar as crianças serem crianças, brincarem, ter sonhos e (até) andar de kart, sem a preocupação de arrebatarem vitórias e títulos para “rechear” um currículo pífio, que se desmoronará com um castelo de cartas em categorias do automobilismo em que a “verdadeira” qualidade do piloto (e não do equipamento disponibilizado e “bolso” do pai definem o vencedor) deve ser provada.

O kartismo deve ser olhado e entendido como um esporte autônomo e não como mero “rito de passagem”, em qual o a obrigação deve ser imensamente maior que o prazer. Aprendamos com Rubens Barrichello e passemos a orientar nossos pilotos, nossos garotos, nosso futuro de nação, a viver um dia após o outro. A terem sonhos e não herméticos objetivos. A sorrirem para as adversidades e a serem homens de verdade, dos quais a nação possa um dia se orgulhar.

Que com esse entendimento de Rubens Barrichello um raio de luz caia dos céus sobre a cabeça de nossos dirigentes do automobilismo e, assim, tenham a honradez de entender os erros perpetrados com a ordem natural das coisas e de, assim, dar um passo atrás, “aumentando” a idade para nossos pilotos iniciarem nos carros de Fórmula em categorias de verdadeiros “caça-níqueis”, em que pouco se aprende, mas muito se perde.

Última atualização ( Sex, 24 de Dezembro de 2010 02:38 )  

Comentários 

 
#4 20/12/2010 14:32
Cláudio: Aqui está aqui demostrado, mais uma vez, o conhecimento e caráter de um verdadeiro conhecedor do esporte a motor.
Você, meu amigo, deve persistir em sua postura extremamente ética para com o ensinamento de nossos pilotos.
Espero que os organizadores das nossas categorias de kart sejam daqui por diante sábios o suficiente para aceitarem a verdade.
Parabéns a você e ao Barrichello.
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#3 13/12/2010 08:26
Bela materia!!! Falou tudo que prescisava ser falado sobre o kartismo brasileiro!!! Onde está o Paulista de kart??? Onde está a maior escola do automobilismo Sulamericano??? Onde estão os atuais "Gimenez, Nicastro,Campos ,Dirani,Dorigon "???
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#2 10/12/2010 11:11
Fabntástica a matéria. Sempre fui um fã incodicional do Rubens. Por nada ele está há tanto tempo na fórmula 1.
Uma aula de como fazer as coisas para dar certo lá na frente.
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#1 Marcos Peli 08/12/2010 12:06
Belíssima Matéria.
Parabéns !!!!!

Abs
Massa
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