Ferido na perna em um acidente na escola, “brazuca” não participará da segunda etapa do certame, programado para este final de semana em Ocala

Na semana que antecedeu a abertura do Florida Winter Tour, em Homestead, o piloto brasileiro radicado em Utah (EUA), Bruno Carneiro (Rodizio Grill/ Legree Motorsports), fazia seu habitual trabalho de ir de casa em casa na cidade norte-americana de Salt Lake City, para vender “gifts” da rede de churrascarias Rodízio Grill. Parte do valor arrecadado nessas vendas é o que compõe seu patrocínio para as competições de kart.

Mesmo com muita neve e gelo pelas ruas, Carneiro não deixou de fazer seu trabalho de venda dos gifts da Rodizzio Grill. Afinal precisava completar o budget necessário para embarcar para a Florida e disputar a etapa de abertura do Florida Winter Tour, pela categoria Junior Rotax. Mas, ao sair de uma das casas, Bruno escorregou no gelo da calçada e caiu pesadamente no solo, ferindo sua mão.

Nada muito sério, mas que decerto foi mais um fator que dificultou sua performance na competição em Homestead. E não foram poucos os problemas enfrentados pelo veloz “brazuca”, pois, além das dores na mão lesionada e inchada, o inverno chegou com força total em Utah, fazendo com que as temperaturas despencassem para indicadores que não eram vistos a décadas e, também, aumentando em muito o volume de neve.

Tais fatores acabaram determinando um pit stop forçado de Bruno em seus treinos com a “Desiré”, nome como carinhosamente chama seu kart Fernando Alonso, powered by Legree Motorsports. Com um orçamento “enxuto”, Bruno não pode fazer o mesmo que seus concorrentes, que contam com melhores recursos para se deslocarem para estados do sul e manterem a atividade nas pistas.

“Este inverno tem sido muito forte”, afirma Luigi Carneiro. “Utah é um estado que entre os meses de outubro e março está, geralmente, coberto pela neve. Isso é muito bom para esquiar, todavia não é nada bom para a prática do kartismo. As temperaturas gélidas durante estes meses fazem com que aqueles pilotos que dispõem de melhor condição financeira, ‘migrem’ para o sul dos EUA e mantenham a atividade em testes privados, ou nos eventos regionais”, esclarece o pai do piloto, Luigi Carneiro.

“O Bruno não sentava em um kart desde outubro. Três meses sem poder pilotar ou testar faz muita diferença. Mesmo assim ele foi para um evento como o FWT, com alguns dos melhores pilotos do mundo na pista e, também, com quem já vem testando semanalmente. Claro, daí a coisa pega. Enquanto ele dava as primeiras voltas, os demais pilotos já estavam com ajustes prontos e com reflexos e técnicas afiadas. É como falei para ele: Imagine um nadador ficar três meses fora da piscina, e quando voltar suas primeiras braçadas serão durante os Jogos Olimpicos?”, prosseguiu Luigi. “Portanto, enquanto seus competidores estão fazendo voltas de treino incessantes, testando ajustes e detalhes, Bruno anda cinco dias por semana por três horas - entre as 18:00 e 21:00 horas, para levantar o budget necessário para que ele possa correr”, concluiu Carneiro Sr.

Com muitas dores e sem poder afiar previamente as garras em treinos com sua “Desiré”, Bruno Carneiro acabou presa fácil dos concorrentes, que levaram vantagem por morarem em estados mais quentes, ou por conterem com a possibilidade de fazer treinos prévios na Florida.

Foi difícil!

Essa, talvez seja a melhor definição da semana de abertura do Florida Winter Tour vivida pelo piloto paulista radicado nos EUA, já que os resultados ficaram muito aquém do que esperava o jovem piloto “brazuca”, um duro crítico de si mesmo: “Não tem desculpa”, disse Bruno. “Não fui bem e não me encontrei a semana toda. Nunca cheguei no limite do kart e só fui me achar no domingo, mas aí já era tarde”, complementou.

Além das dores e da falta de treinos, outro fator influiu no resultado final de rodada de abertura do FWT: Bruno é o mais baixo e mais leve piloto da Junior Rotax no FWT. Só de lastro são 25 quilogramas a mais em seu kart para atingir o peso mínimo da categoria. Isso torna o kart extremamente pesado e difícil de pilotar, principalmente para um jovem franzino e (ainda) com pouca força física para a classe.

Claro, com mais testes, será possível encontrar uma maneira de fazer os pesos trabalharem melhor com o conjunto, mas no momento, é tudo apenas peso morto. “Meu maior problema é que meu kart escorrega nas quatro rodas. Não aponta e não gira, como era na Cadete MiniMax. Eu tento usar meu corpo, mas não adianta muito. Estou fazendo tratamento para crescer e vou à academia todos os dias, o que me ajuda em resistência, mas não ajuda com os pesos no banco do kart”, explicou Bruno.

Com tudo isso, Bruno Carneiro não conseguiu repetir seu costumeiro desempenho surpreendente nas provas classificatórias e teve de encarar a prova de repescagem, buscando classificar o #212 para as finais de domingo. Nessa prova contou com a torcida extra nas arquibancadas do maior kartista de todos os tempos, Waltinho Travaglini, do hexacampeão do Rally dos Sertões, Carlo Collet e do ex-piloto de F1, Rubens Barrichello, que acompanharam atentamente a performance do brasileiro. Certamente essa torcida foi providencial, pois o piloto da equipe Rodízio Grill/ Legree Motorsports conseguiu a classificação para as corridas Pré-Final e Final de domingo.

“Bruno se classificou para a Final de domingo e nela fez uma grande largada. Ganhou muitas posições e chegou a estar na 18th posição, até que se envolveu em uma batida forte, que o tirou da prova”, contou o produtor musical Luigi Carneiro, pai do jovem piloto.

“A equipe trabalhou muito e no domingo achamos quase quatro décimos no kart, mas, mesmo assim, a cabeça do Bruno não estava em sintonia com o kart e ele se questionou muito sobre o que aconteceu a semana toda. Vamos para a próxima. Esta etapa foi mais como um treino de luxo, para voltar a pegar a mão. Ainda assim ele terminou em 28th no total de 48 karts”, resumiu Luigi.

De volta a Salt Lake City, Bruno Carneiro sofreu novo acidente. Desta vez na escola, que lhe rendeu sete pontos em um profundo corte na perna, que lhe tirou qualquer chance de participar da segunda etapa do Florida Winter Tour, neste final de semana, em Ocala.

Se a bruxa anda solta para os acidentes domésticos com Bruno Carneiro, o certo é que não lhe faltam determinação e paixão pelo esporte que tanto ama. E é exatamente esta determinação e fé em seu potencial que o vem mantendo no automobilismo por quase dez anos.

Uma teimosa obstinação e férreo caráter instalados em um diminuto adolescente que, mesmo com o dolorido corte na perna, já está novamente batendo de porta em porta, enfrentando temperaturas da ordem de seis graus negativos e muita neve para, mais uma vez, complementar o orçamento e poder comprar um jogo extra de pneus para a próxima corrida.

Uma maravilhosa teimosia, que chega quase a beirar a arrogância. Teimosia que o faz acreditar que apesar de todos os obstáculos ele tem o direito de estar ao lado de alguns dos melhores pilotos do mundo e, com eles, disputar seu lugar ao sol.

Que bom seria esse mundo se tivéssemos muitos Bruno Carneiro!

A lição de vida de piloto diferenciado

Para quem desconhece a carreira e história de Bruno Carneiro, diferentemente da maioria dos kartistas, que competem com recursos oferecidos por seus pais, ou por empresas patrocinadoras, em troca de espaço de visibilidade, Bruno faz a venda de gifts da rede de churrascarias norte-americana Rodízio Grill de porta em porta, desde os cinco anos de idade.

Foi essa a formula encontrada pelo empresário (e também piloto) Ivan Ultrera de viabilizar o apoio necessário para o desenvolvimento de carreira do jovem e talentoso kartista. Claro, também para coadjuvá-lo no aprendizado do valor e administração do dinheiro.

É, portanto, pelo fruto de seu esforço pessoal, tenacidade e extrema paixão pela velocidade, que a vitoriosa carreira de Bruno Carneiro tem arrebatado ao longo dos anos troféus, títulos e, claro, o coração de todos que conhecem Bruno Carneiro e sua história, que é uma lição de vida.

Sua legião de fãs vai de crianças carentes, à pilotos de renome e internacionalmente conhecidos.

“Como muitos já sabem, o Bruno é responsável por todo o dinheiro que consegue levantar e paga sozinho, aos 14 anos, todos os gastos relacionados às suas corridas de kart. Desde passagens aéreas, pneus, hotel, inscrição, alimentação, materiais promocionais e tudo mais que se faz necessário”, esclarece em detalhes, Luigi Carneiro, pai do jovem Bruno.

“O Bruno visita patrocinadores, faz Palestras Motivacionais, dá aulas de kart e, também, bate de porta em porta para vender produtos de seu patrocinador principal, o Rodizio Grill, que o apóia há dez anos”, complementa Luigi, que faz o trabalho de “motorista” de Bruno Carneiro, levando-o para os bairros e, por horas, fica dentro de seu carro acompanhando à distancia as vendas porta-a-porta.

Desde o ano passado o jovem piloto tenta viabilizar um novo projeto, a Bruno Carneiro Karting Academy. Preocupado com o futuro de crianças que ele vê nos noticiários, Bruno está tentando juntar um grupo de empresas que subsidiem uma fundação, cujo objetivo será o de proporcionar, através do esporte, a inclusão de crianças que venham de famílias que sofrem abuso, crianças carentes e toda sorte de crianças que estejam à margem da sociedade. É uma nova “utilidade” para o kart, que será utilizado como ferramenta de inclusão.

Enquanto Bruno tenta sensibilizar as empresas, por conta própria e deus recursos pessoais, já comprou o primeiro kart e motor que usará para ensinar e treinar as crianças. Agora seu “cofrinho-porquinho” começa a engordar para a compra de um Baby Kart para as crianças menores também poderem participar.

Bruno Carneiro é um garoto como outro qualquer. Tem sonhos e quer um futuro promissor. Mas ao invés de esperar as coisas caírem no seu colo, como a maioria dos garotos de sua idade, Bruno é daquelas raras pessoas cuja inquebrantável fé e força de vontade faz tudo acontecer.

Bruno Carneiro é, por si, uma lição de vida!