Sul-Americano – Tommy Kühne é Vice-Campeão Sul-Americano

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O Kartódromo Arena Sapiens, localizado na belíssima capital do estado de Santa Catarina, a “Ilha da Magia” Florianópolis, foi o palco da edição 2015 do IRMC South American, conhecido como Campeonato Sul-Americano de Kart Rotax e destinado às classes de karting impulsionadas pelo propulsor austríaco. A competição foi realizada entre os dias 30 de junho e 5 de julho.

Na pista, 160 pilotos de nove nações distintas esbanjavam competência na busca do titulo máximo sul-americano de suas categorias. Entre quarta e sexta-feira ocorreram os treinos livres cronometrados. No sábado (04/07) as tomadas de tempos que definiram o posicionamento dos karts no grid das três corridas classificatórias e as “mangas” classificatórias. No domingo (05/07), as corridas Pré-Final e Final, que definiriam os campeões de 2015.

Foram, ao todo, treze treinos livres para cada uma das nove categorias que integraram o certame internacional, para efeito de os competidores encontrarem os melhores ajustes em seus micromonopostos e, também, desvendarem os segredos do veloz e, ao mesmo tempo, seletivo circuito desenhado por Lucas Di Grassi.

O kartista teuto-brasileiro Tommy Kühne (TR3 Motorsport/ Audi Sport/ Kienbaum) está competindo com motores dois tempos a apenas quatro meses e tem apenas um ano e meio de experiência em competição com os velozes micromonopostos. Porém, nos treinos de sua classe, por oito vezes foi o mais veloz entre os competidores da categoria Rotax Mini Max. Em três oportunidades foi o segundo mais rápido e nas duas práticas restantes, foi o terceiro.

Com tais resultados e, principalmente, ante seu avassalador desempenho nos treinos livres cronometrados, a expectativa geral definia Tommy como um dos principais favoritos à conquista da pole position na tomada de tempos classificatórios. O posicionamento conquistado na pratica classificatória seria o mesmo em que cada competidor alinharia no grid de cada uma das três corridas classificatórias.

Com a marca de 56s964 em sua melhor passagem, Tommy Kühne garantiu a posição de honra nas três baterias classificatórias. A marca foi mais de meio segundo mais veloz que a de seu companheiro de equipe, Gabriel Bortoleto, que ficou com a segunda posição da grelha.

Uma lição de honra

Pole position, Kühne foi superado por seu “team mate” Gabriel Bortoleto e o colombiano Juan Rodriguez. A maior experiência em competições de Bortoleto mostrou que era fator decisivo. Deu o pé antes na largada e tomou a ponta da corrida, com Kühne caindo para a P3.

No final da volta inicial Kühne reassumiu a P2 e na seguinte, chegou em Bortoleto para retomar a ponta na freada do final da reta. Todavia, sua liderança durou apenas meia volta, já que o paulista Leonardo Reis veio voando, tomando as demais posições cimeiras e acabou ultrapassando Tommy no meio da volta.

Thomas tentou o “aprouch” na reta para retomar a liderança, mas, esperto, Reis veio por dentro, defendendo a posição. Os lidereis estavam todos muito próximos e, no meio dessa volta, Juan Rodriguez tentou superar Kühne, bateu em seu kart e ambos se atrasaram em relação ao líder.

Tommy acelerou forte, praticamente voou pelo traçado do circuito catarinense e conseguiu chegar de novo em Leonardo Reis, que inteligentemente não dava espaço para qualquer ataque. Na volta final Kühne tentou a ultrapassagem no final da reta principal pela linha externa. Não conseguiu seu intento e na saída do “S”, que antecede o Curvão, os bólidos se tocaram, com Reis rodando e Tommy assumindo a dianteira da corrida, com bastante folga para o segundo colocado.

Com o piloto da equipe TR3 Motorsport/ Audi Sport/ Kienbaum disparado na dianteira a vitória era certa. Porém, três curvas antes da linha de chegada, da consagradora “checkered flag”, Tommy Kühne reduziu a marcha, saiu do traçado principal e olhando para trás, foi deixando todos os concorrentes o superarem até ser ultrapassado por Leonardo Reis, com quem havia colidido no início da volta. Deixou todo mundo passar, para cruzar apenas na nona colocação.

Thomas percorreu toda a reta de chegada sob aplausos de todos os presentes em razão de seu “beau geste”.

Após a prova, Tommy Kühne esclareceu que entendia ter prejudicado Reis em um acidente evitável (embora os Comissários Desportivos tenham entendido ter sido uma manobra normal de corrida) e que não achava justo, ou lícito vencer dessa maneira. Exatamente por isso reduziu a velocidade, para receber a bandeirada atrás de Leonardo Reis.

Para muitos, abdicar de um triunfo é algo inimaginável, todavia, para Tommy Kühne (TR3 Motorsport/ Audi Sport/ Kienbaum) inimaginável é vencer sem honra!

Em toda história do automobilismo apenas uma outra ocasião, a exemplo da atitude altruísta e de respeito a outro competidor como esta de Thomas Kühne, nos ocorre à memória: O GP do Japão de 1991. Já Tricampeão Mundial de F1, com seu titulo garantido na escapada da pista do britânico Nigel Mansel na volta inicial, Senna reconheceu a contribuição durante a temporada do seu companheiro de equipe, o austríaco Gerhard Berger e, na ultima curva da corrida, abriu para o lado externo e sinalizou para Berger ultrapassar, entregando a vitória que já estava garantida.

Como Ayrton Senna, Tommy Kühne provou que é um grande desportista, daqueles raros, muito raros, que despojadamente conseguem abrir mão de uma vitória garantida, em nome do respeito ao adversário, em nome da honra!

Longe de ser uma atitude de inocência, de um garoto “bobinho” despreparado para o mundo das competições, a atitude que calou as centenas de pessoas que assistiam a disputada competição no Kartódromo Arena Sapiens, foi rápida, metodicamente pensada e perfeitamente aquilatada por um garoto de apenas 11 anos de idade. Com a lógica natural de sua porção germânica – e quase a logica do vulcaniano Mr. Spock, da série cinematográfica Star Trek – o pequeno e fisicamente franzino piloto provou que é um gigante na alma e no coração e, como Ayrton Senna, é dotado de irretorquíveis valores morais que norteiam seus procedimentos.

As demais corridas classificatórias

Novamente pole position, Tommy alinhou para a segunda bateria classificatória e novamente a menor experiência em corridas – Kühne compete com kart dois tempos a apenas quatro meses e conta com apenas um ano e meio no mundo da velocidade - foi fundamental no momento da largada. Tommy não largou bem e sem conseguir “encaixe” na linha do traçado ideal, acabou amargando a sétima posição ao final da primeira volta.

Todavia Thomas foi se recuperando ao longo da prova, até chegar na P4, atrás de Leonardo Reis. Ambos fizeram um grande combate, com várias trocas de posição, mas Reis se impôs e ficou com a P3 da prova. Ao final da prova o vencedor foi punido pelos Comissários Desportivos, pelo que Tommy ficou com a terceira colocação.

Nem Hercule Poirot, de Agatha Christie, ou Sherlock Holmes de Sir Arthur Conan Doyle, conseguiriam desvendar o mistério do motor de arranque do kart #191, de Tommy Kühne. Autorizada a partida dos bólidos para o alinhamento da terceira corrida classificatória o kart de Kühne simplesmente não ligou, com o motor de partida queimado. Com isso Tommy não participou da corrida e, pela soma de pontos perdidos nas três corridas, “garantiu” a última posição do grid de largada na corrida Pré-Final na manhã do domingo 05/07.

A eventual única solução se tornou outra citação literária. Desta vez de William Shakespeare, em sua peça Hamlet: “Há mais coisas entre o céu e a terra do que pode imaginar nossa vã filosofia”.

A redenção nas Finais

A Pré-Final da Mini Max foi, decerto, a corrida foi a mais emocionante, até então no Sul-Americano de Rotax, entre todas as categorias. A prova foi um verdadeiro show de pilotagem de Tommy Kühne e Leonardo Reis, que da última fila do grid, conseguiram em poucas voltas chegar nos líderes da prova, Enrico De Lucca e Juan Rodriguez, que duelavam bravamente pela ponta.

Rapidamente chegaram e ultrapassaram os lideres, iniciando o combate pela vitória. Um verdadeiro duelo entre os dois pilotos que mais se destacavam na categoria Rotax Mini Max. Leonardo seguia à frente, desde a largada, sempre com Tommy em sua cola. Nas três voltas finais essa disputa potencializou-se, com ambos disputando cada freada, cada retomada e trocando incessantemente de posição na liderança da corrida.

Kühne percebeu que não conseguiria sustentar a liderança até a bandeira a quadros, pelo que, inteligentemente, permitiu que o colombiano Juan Rodriguez o superasse, para largar na corrida Final na terceira posição, ou seja, do lado interno da pista e em situação mais vantajosa que a do lado externo, ocupado pelo segundo colocado.

Se a Pré-Final foi emocionante, a corrida finalíssima superou todas as expectativas.

E foi de arrepiar!

Desde a largada a emoção esteve no limite do suportável para os cardíacos, com Reis na ponta, Tommy em segundo, Juan Rodriguez em terceiro e Enrico De Lucca em quarto.

A “malandragem” também corria solta entre o quarteto. Tommy sinalizava para Rodriguez não atacar e, assim, permanecerem perto de Reis. Todavia, o colombiano não concordava e atacava incessantemente. Kühne preferiu não oferecer resistência, para manter acesas as chances de vitória, cedendo a posição para o colombiano.
O mesmo de se deu logo depois com Gabriel Bortoleto. Todos com os mesmo sinais para os adversários: “Vem atrás”...

Tommy Kühne chegou a estar em quinto na corrida, mas, em uma manobra magistral, ultrapassou a todos e colou no para-choques do kart de Reis. Uma volta depois já era o líder e ponteou a corrida até três voltas para o final, quando Reis retomou a dianteira.

Penúltima volta e Tommy se mantinha impassível e colado atrás do kart de Reis.

Na volta final atacou o kartista teuto-brasileiro, passou, foi ultrapassado e assim sucessivamente, até a três curvas do final, quando Reis assumiu definitivamente a liderança e levou a vitória e o titulo máximo da categoria. Tommy Kühne fica com o Vice-Campeonato em uma volta final para lá de emocionante, com cinco trocas de líder e sem contato entre os bólidos. Pura magia. Puro talento de Tommy Kühne (TR3 Motorsport/ Audi Sport/ Kienbaum) que proporcionou ao publico um verdadeiro show de pilotagem. Um show de dois grandes competidores, que souberam se respeitar e agir dentro das regras.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Última atualização ( Sex, 10 de Julho de 2015 19:00 )